quinta-feira, 13 de novembro de 2014

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REVISTA TEXTO & TEXTS EDITOR-CHEFE J.FILARDO

Pequena (?!) História da Maçonaria no Brasil – William Almeida de Carvalho


Introdução
O presente artigo visa dar uma ideia panorâmica da Maçonaria Brasileira através da história do Grande Oriente do Brasil GOB, o tronco básico, e de suas posteriores cisões, principalmente a de 1927 e a de 1973. Para uma visão mais completa e aprofundada sobre o assunto pode ser consultado o livro História do Grande Oriente do Brasil de José Castellani e William Carvalho da Editora Madras de 2009. Até a primeira cisão de 1927, a história da Maçonaria brasileira se confundia com a história do Brasil. A partir de então, ou seja, no momento em que a Maçonaria deixa de ser um grupo estratégico, a história se bifurca, seguem rumos paralelos, com alguns contatos ocasionais. A partir da gestão de Jair Assis Ribeiro (1983-1993) no GOB assistiu-se a um ponto de inflexão do desenrolar da Maçonaria brasileira. Atualmente cresce a taxas chinesas, mas ainda não voltou a ser um interlocutor estratégico do país, como fora no passado.
A Maçonaria brasileira, pelo menos, está entrando num patamar de efervescência cultural e educacional com a criação de lojas de pesquisas, universitárias, academias etc. que dentro em breve, inevitavelmente terá desdobramentos significativos. Assim como no passado, a Maçonaria emprestou a sua organização para um país que não possuía partidos políticos, ele poderá, neste limiar do século XXI, ajudar o país, que ainda possui instituições políticas com ranço de desempenho pré-iluministas, a criar valores e instituições verdadeiramente republicanos. O Brasil proclamou a República, mas seus valores ainda são patrimonialistas. Este é o grande desafio que a Maçonaria poderá ajudar o Brasil adequar sua escala de valores e desempenho neste século.
Deu-se particular ênfase às duas cisões no século XX por sua importância estratégica. Compõem ainda o presente trabalho dois anexos: i) a relação dos Grão-Mestres do GOB e ii) um quadro estatístico sobre as Obediências e os maçons brasileiros, considerados regulares, tais como o GOB, as Grandes Lojas e a COMAB (Confederação Maçônica do Brasil). Convém ainda salientar que todas as cisões no Brasil se devem à perda de eleições e não a divergências doutrinárias. Pelos dados apresentados pode-se afirmar que o Brasil possui mais de 6.000 lojas maçônicas e quase 200.000 maçons. Essas são as potências ditas regulares.
 Primórdios
Com os dados hoje disponíveis, a primeira referência a uma Loja maçônica brasileira que se tem notícia teria sido em águas territoriais da Bahia, em 1797, em uma fragata francesa La Preneuse, denominada Cavaleiros da Luz, sendo pouco tempo depois transferida para a Barra, um bairro de Salvador. Contudo, a primeira Loja regular do Brasil foi a Reunião, fundada em 1801, no Rio de Janeiro, filiada ao Oriente da Ilha de França (Ille de France), antigo nome da Ilha Maurício, à época possessão francesa e hoje britânica.
Dois anos depois o Grande Oriente Lusitano, desejando propagar, no Brasil, a “verdadeira doutrina maçônica”, nomeou para esse fim três delegados, com plenos poderes para criar lojas regulares no Rio de Janeiro, filiadas àquele Grande Oriente. Criaram, então, as Lojas Constância e Filantropia, as quais, junto com a Reunião, serviram de centro comum para todos os maçons existentes no Rio de Janeiro, regulares e irregulares, tratando de iniciar outros, até ao grau de Mestre. Apesar de controvérsias a exigir maiores pesquisas nesta área, essas foram as primeiras Lojas oficiais e consideradas regulares, pois já existiam, anteriormente, agrupamentos secretos, em moldes mais ou menos maçônicos, funcionando mais como clubes, ou academias, mas que não eram Lojas na acepção da palavra.
Depois da fundação daquelas três primeiras Lojas “oficiais”, espalharam-se, nos primeiros anos do século XIX, Lojas nas províncias da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro, livres, ou sob os auspícios do Grande Oriente Lusitano e do da França. Convém salientar que os governos coloniais da época tinham instruções precisas para impedir o funcionamento de Lojas no Brasil. Tanto assim que aquelas Lojas – Constância e Filantropia – foram fechadas em 1806 no Rio de Janeiro, cessando as atividades maçônicas nesta cidade, mas continuando e se expandindo, principalmente na Bahia e em Pernambuco. O Rio de Janeiro, contudo, não podia ficar sem uma Loja, e apesar desta proibição os trabalhos prosseguiam com as Lojas São João de Bragança e Beneficência.
Um fato importante para a história do futuro Grande Oriente do Brasil foi que a Loja Comércio e Artes, fundada em 1815, conservaram-se independente, adiando sua filiação ao Grande Oriente Lusitano, porque os seus membros pretendiam criar uma Obediência brasileira. Convém ainda salientar que no ano de 1817 ocorreram dois fatos de suma gravidade em termos de crime de lesa-majestade. Estouraram duas revoluções: i) a Revolução Pernambucana de 1817, um movimento revolucionário, de caráter fortemente nacionalista, feito no sentido de implantar a República em Pernambuco; e ii) Conspiração Liberal de Lisboa de 1817 liderada pelo nosso Ir. General Gomes Freire de Andrade, ex-Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano. Dado esse clima de sedição, tanto em Portugal como no Brasil, houve a expedição do draconiano alvará de 30 de março de 1818, que proibia o funcionamento das sociedades secretas. As Lojas resolveram então cessar seus trabalhos, até que pudessem ser reabertas sem perigo. Os maçons, todavia, continuaram a trabalhar secretamente como no Clube da Resistência, fundado no Rio de Janeiro.
Estoura a Revolução Liberal do Porto em 1820, liderada pelos maçons portugueses, exigindo a volta de D. João VI para Portugal. A partir de então os acontecimentos começam a se precipitar. Também é desencadeada na Espanha a Revolução de 1820. A vaga liberal (maçônica) começava contestar os Estados Absolutistas da Península Ibérica. No Brasil, o ano de 1821 começou com uma série de acontecimentos político-militares que culminariam na Independência do Brasil. Como naquela época inexistiam os partidos políticos, foi necessária uma organização que coordenasse e mobilizasse o descontentamento político e a Maçonaria brasileira emprestou sua organização para tal fim. Voltava, então, à plena atividade.
O primeiro fato foi à sedição das tropas a 26 de fevereiro que impunham ao rei D. João VI o juramento à Constituição portuguesa, o que provocou o início de intensa conspiração, entre os quais muitos maçons, visando à independência do Brasil. Os acontecimentos seguintes foram os de 20 e 21 de abril, quando houve a sedição dos eleitores, exigindo a permanência do rei no País, o que provocou a pronta reação das tropas portuguesas, que garantiram o embarque da família real. Todos esses fatos atraíram a atenção policial contra os maçons, o que não impediu, todavia, que a Loja Comércio e Artes voltassem a trabalhar secretamente, reerguendo suas colunas a 24 de junho de 1821. Agora com o nome de Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro, sob os auspícios do Grande Oriente de Portugal, Brasil e Algarves.
A afluência de adesões foi tão grande nos meses seguintes que logo se pensou em criar uma Obediência nacional, o que aconteceria a 17 de junho de 1822, com a subsequente divisão do “Comércio e Artes”, formando o trio de Lojas fundadoras do Grande Oriente. A partir deste momento, a Maçonaria brasileira deixava de ser um grupo heterogêneo de Lojas esparsas ou ligadas a algumas Obediências Estrangeiras para se transformar em mais uma célula do sistema obediência mundial.
Apresenta-se um breve resumo dos primórdios até a fundação do Grande Oriente do Brasil, a mais antiga, a maior e a mais tradicional Obediência brasileira. Apesar da precariedade documental, pode-se apresentar a seguinte cronologia: 1796 – Fundação, em Pernambuco, do Areópago de Itambé, que não era uma verdadeira Loja, pois, embora criado sob inspirações maçônicas não fosse totalmente composto por maçons;

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